Dr. Mukwege breaks the silence in Porto Alegre by FRONTEIRAS DO PENSAMENTO

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Denis Mukwege and Marcos Rolim (clik on the picture above - part 1)

segunda-feira, 4 de junho de 2012


Denis Mukwege, o homem que salva mulheres vítimas de abuso sexual na RDC

27/03/12 
Publicado Por: Agência Efe
Pedro Alonso.

Bukavu (RDC), 27 mar (EFE).- No eterno conflito da República Democrática do Congo, um médico de aspecto bonachão mantém viva a esperança de muitas mulheres que, após serem estupradas pelo Exército e por grupos armados, encontram ajuda em seu hospital.

O "anjo do guarda" dessas pacientes se chama Denis Mukwege, um ginecologista que fundou em 1999 o Hospital Panzi em Bukavu, capital da província de Kivu do Sul (leste do país), e cuja defesa dos direitos das congolesas o fez ser indicado duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz.

"Esse é um hospital geral, mas a metade de nossos leitos (cerca de 300) é reservada para as vítimas de estupro", comentou à Agência Efe Mukwege, que cuidou de "mais de 35 mil mulheres" desde a inauguração do centro médico.

Bukavu, cidade com mais de 700 mil habitantes, foi fundada em 1901 pelas autoridades coloniais belgas, que a chamaram a "Suíça da África" por suas pitorescas paisagens.

Após o domínio colonial, a longa sombra da Segunda Guerra do Congo (1998-2003), considerada a "guerra mundial da África" porque envolveu nove países e mais de 20 grupos armados, paira sobre a cidade atualmente.

Soldados do Exército congolês armados com fuzis patrulham agora Bukavu, cujas ruas esburacadas também enfrentam o incessante trânsito de veículos da Monusco, a maior força de paz da ONU, com até 22 mil militares.

Não longe das verdes montanhas da "Suíça da África", grupos rebeldes armados - ruandeses, congoleses e ugandenses - escondidos na mata e o Exército mantêm aceso um conflito que deixa, entre suas vítimas, as mulheres.

Entre 200 mil e 300 mil congolesas foram estupradas desde o começo da guerra, principalmente na RDC, segundo cálculos da ONU, que considerou esse país como "o pior lugar do mundo para uma mulher viver".

Muitas dessas congolesas conseguiram refazer suas vidas destruídas no Hospital Panzi, localizado no subúrbio de Bukavu, tão limpo e organizado que parece um barco imaculado à deriva no mar de miséria que assola a região.

A maior parte dos abusos sofridos pelas pacientes - disse Mukwege à Efe - "foi cometida por grupos rebeldes e pelo Exército", já que a agressão sexual "é usada como uma arma de guerra no conflito", apesar de ultimamente "a violência doméstica estar crescendo".

"As mulheres que são estupradas por grupos armados não apenas sofrem abuso, mas também são torturadas", informou o médico congolês, filho de um pastor da Igreja Pentecostal que estudou Medicina no Burundi e ampliou estudos na França.

O médico, de 57 anos, tenta curar nesse hospital mulheres que chegam até ele arruinadas física e psicologicamente.

"Quase todas as lesões provocam um sangramento e afetam o útero, a vagina e o reto. Às vezes, o órgão sexual delas fica totalmente danificado e temos que reconstruí-lo. Fazemos o possível para que essas mulheres voltem a ter uma vida normal", explicou.

"Antes de qualquer operação cirúrgica, a primeira coisa que preciso fazer é ajudá-las psicologicamente, porque a maioria chega aqui muito deprimida e traumatizada", afirmou.

Mukwege conhece bem o horror da guerra, já que teve de deixar o Hospital de Lemera (Kivu do Sul), destruído em 6 de outubro de 1996 em um ataque que antecedeu na Primeira Guerra do Congo (1996-1997), que derrubou o ditador Mobutu Sese Seko.

"Aqui enfrentamos as consequências da guerra. E essa situação é muito ruim porque a população civil está pagando um preço muito alto. A solução não está no hospital, já que só tratamos dos resultados do conflito", acrescentou o ginecologista.

Apesar de ter sido candidato ao Prêmio Nobel da Paz e receber diversos prêmios, Mukwege não se considera um herói por salvar tantas congolesas.

"Só faço - argumentou com modéstia - o que tenho de fazer. Como ser humano, não consigo entender que nada seja feito nessa situação. Não sinto que estou fazendo algo especial".

Perguntado se ainda resta esperança para as mulheres da RDC, Denis Mukwege responde sem titubear com um sorriso largo: "Elas são muito fortes. Não tenho a menor dúvida de que se os homens não fizerem nada, as mulheres o farão". EFE

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